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28 de setembro de 2015

Grande Irmão – Lionel Shriver

A leitura desse livro me tinha sido indicada pela @diasdelili (Valeu Lili!) a um tempão e pra variar eu procrastinei décadas para lê-lo. Mas foi um daqueles que você começa a ler e as primeiras páginas já te pegam e não te deixar ir.

Lí por aí que a autora também escreveu “Precisamos Falar sobre Kevin” que é super aclamado e está na minha lista de leitura a eras. Mas não precisamos falar sobre minha lista de leitura não é mesmo? (tum dunts)

O tema principal do livro é comida e a forma doentia com que lidamos com ela para suprir questões emocionais, para preencher vazios, pra ocupar tempo, pra lidar com problemas... Seja nos empanturrando dela até a obesidade mórbida, seja utilizando ela como forma de controle e barganha de emoções com as outras pessoas. Mas paralelamente a este tema a autora toca em questões tão profundas, relações familiares, culpa, casamento, dependência emocional e química.

Pandora é a narradora desta história, na faixa dos 40 anos, dona da sua própria e bem sucedida empresa de brinquedos artesanais, casada com Fletcher a 8 anos e madrasta dos dois filhos do primeiro casamento desastrosamente finalizado do marido, Tanner e Codi.

A personalidade de Pandora pra mim foi uma incógnita extra nesse livro. Ao mesmo tempo que se mostrava uma pessoa benevolente, altruísta, com uma modéstia por vezes irritante, ela se mostrava meio apática demais e submissa demais.

“Eu considerava a maioria das convicções uma diversão, e seu cultivo, uma vaidade, razão por que quase nunca lia jornais. Meu conhecimento de um assassinato no Líbano não traria a vítima de volta à vida, e, dado que primordialmente as notícias agravavam o sentimento de desamparo, eu achava surpreendente que tanta gente lhes desse atenção. A recusa em fabricar opiniões para consumo social me tornava uma chata, mas eu adorava ser chata. Não ter o menor interesse terreno para ninguém tinha sido um objetivo a cumprir durante toda minha vida.”

Na segunda parte do livro sua personalidade muda completamente e te surpreende. Fato que descobrimos ser uma jogada inteligentíssima da autora, nos causando o choque, que faz o final desse livro surpreendente.

“Acho que passava boa parte do tempo navegando na internet, o grande matador de tempo que havia substituído a televisão, conspicuamente passiva, por sua ilusão sedutora de produtividade... Talvez eu exagerasse a ênfase que dava ao valor de me manter ocupada e devesse ter aprendido a relaxar mais, porém achava inquietante que fosse possível, especialmente com a ajuda de engenhocas eletrônicas, alguém passar tempo e mais tempo e mais tempo sem fazer absolutamente nada. Eu gostava de imaginar que era incapaz de não fazer nada durante tardes inteiras, mas talvez o que me perturbava fosse ser capaz disso.”

Pandora então recebe um telefonema de um amigo de seu irmão mais velho, Edison, dizendo que o irmão, que era seu símbolo de vida bem sucedida e status, estava falido e vivendo no sofá dele e que a situação era insustentável. Pandora não entendia como um músico de jazz tão conhecido e renomado e com tantos contatos como Edison poderia estar nessa situação. Eles também vinham mantendo aquele contato frio e distante por telefone há muito tempo, nos quais era difícil saber a real situação da pessoa. 

Ela então manda dinheiro e passagens para ele passar uns tempos na casa dela, a revelia do marido que possui sérios problemas com Edison e não conseguiria imaginar passar mais que um final de semana com ele, quanto mais hospedá-lo por meses. O grande ponto acontece aí. Pandora vai buscar o irmão no aeroporto e percebe que o problema não seria apenas convencer o marido a aceitar conviver por um tempo mais prolongado, mas também ela mesma quebrar paradigmas ao perceber que o irmão estava muito diferente da ultima vez que o vira: dezenas de quilos mais gordo, mal se aguentando em pé.

— [...] Eu não sabia como tocar no assunto...
— Que tal “ei, mano, você está gordo para caramba”? Acha que não sei que estou gordo? Também fazem espelhos em Nova York, sabia?
— Tudo bem. — Afrouxei um pouco as mãos no volante. — Quando pus os olhos em você no aeroporto, fiquei perplexa. Na verdade, ainda estou perplexa. Não consigo entender como você pode ter engordado tanto em tão poucos anos.
— Experimente você mesma qualquer dia desses. Não é muito difícil.
Ele tinha razão. Acrescente quatro pães de canela por dia a uma dieta neutra em calorias e você pode engordar quase 175 kg num único ano.
— Mas... por quê? — indaguei, timidamente.
— Dãã! Eu gosto de comer!
— Bem, todo mundo gosta.
— Então, não é nenhum grande mistério, é? Todo mundo inclui a mim, e eu gosto de comer muito.
Suspirei. Não queria deixá-lo irritado.
— Você gostaria de emagrecer?
— É claro, se pudesse apertar um botão.
— O que isso quer dizer?
— Que eu gostaria de ter dez milhões de dólares. Gostaria de ter uma mulher linda... outra vez, devo acrescentar. Gostaria da paz mundial.
— A pessoa pode controlar o peso que tem.
— Isso é o que você pensa.
— Sim. É o que eu penso.
— Você também ganhou uns quilinhos. Também gostaria de perdê-los?
— Sim, na verdade, gostaria.
— Então por que não perde? Ou por que não perdeu?
Franzi a testa.
— Não tenho certeza.

Muitos conflitos surgem daí. Além das reservas habituais que Fletcher já tinha em relação a Edison, questões de opinião principalmente e personalidade, surge um embate extra: o fissurado por comida saudável e exercícios, controlador da dieta da família inteira versus o obeso mórbido. Irmandande, amizade e até a saúde do casamento de Pandora são levados ao limite.

O livro me sugou, me fez pensar, mexeu comigo em muitos níveis e me surpreendeu com um final chocante desses que você realmente não espera. Grande Irmão te faz refletir um pouco sobre sua própria relação com a comida, sim, mas muito mais além te faz pensar sobre esforço, oportunidades perdidas e prioridades.

Valeu cada página! 




E você? Já leu Grande Irmão? O que achou? 

2 comentários:

  1. Que história curiosa, fiquei bem interessada em saber mais sobre o livro. Ainda mais depois que li essa resenha ~ e fiquei sabendo desse final surpreendente. Adorei a dica!

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    1. Tá uma boa definição: uma história realmente curiosa! O final é igualmente peculiar! Depois me conta se curtiu! Beijos e obrigada!!

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E aí? o que você achou?

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