Image Map

23 de setembro de 2015

A falácia do "Cabelo ruim". Apenas parem!

Olha eu nem deveria dizer isso mas, né? Continuamos repetindo isso por aí como se fosse legal. Digo continuamos porque eu já disse várias vezes a respeito dos outros e de mim e gente, chega. Pára que tá feio.

Vamos acabar com essa cultura racista que reproduzimos nessas expressões que muita gente classifica como brincadeirinha inocente mas que influencia vida de pessoas que de tanto ouvirem acreditam que são piores porque tem o cabelo assim ou assado. OU melhor, vamos colocar em pratos limpos: porque tem cabelo CRESPO.

Esse post é pra contar a minha história com meu cabelo. Como eu consegui realmente entender que eu precisava entendê-lo e amá-lo do jeito que ele é. Não foi de um dia pro outro, foram muitos anos e com ajuda de muita gente, principalmente na internet, que hoje eu me sinto empoderada com meus cachos ruivos.

A história começa mais ou menos assim (senta que lá vem história):

Era uma vez uma criança que nasceu careca mas logo logo começaram a nascer suas primeiras penugens ruivas que insistiam em não se comportar e serem lisinhas e fáceis de pentear como a da mamãe loira e de olhos verdes que ele tinha. 

A Infância
A adolescência foi muito estranha. MUITO estranha. Eu quase não tenho fotos dessa época e as poucas que achei não davam pra ver a tristeza que era a realidade do meu cabelo. Não existia essa variedade toda de cremes para pentear e tratamentos que existem hoje. Acho que só existia Kolene ( que eu me lembre). A verdade é que eu me sentia oprimida por ter um cabelo volumoso. E eu tentava da pior forma possível driblar isso: enchendo o cabelo de creme e prendendo ele molhado e partido ao meio. REALIZA essa imagem. Resultado disso foi uma dermatite seborréica grave que minha mãe tinha que abrir parte por parte do meu cabelo pra passar pomada. Eu tinha nessa época uns 13 anos. Nessa fase então começaram as químicas para "soltar os cachos", que não é nada mais que alisamento incompleto. 

Foram anos e anos e anos de química. Muitos diziam que meu cabelo era lindo mas eu não acreditava de fato. Ele foi crescendo e ficando enorme, mas na minha cabeça eu ainda era aquela adolescente com aquele cabelo volumoso e sem jeito que todo mundo ia achar feio. Ele ficava solto quando tava molhado, quando tava um pouquinho seco, mas quando secava mesmo e começava a dar um pouquinho de volume eu dava um jeito de prender. Eu tinha uma imagem distorcida de mim mesma. Um imagem que dizia que bonito mesmo era ter qualquer coisa diferente do que eu tinha. Minha frase recorrente era "Minha mãe tem cabelo liso, meu pai também, porque só eu nasci com cabelo ruim?" Quanto mais o tempo passava e mais química eu fazia para "relaxar os cachos" na verdade os meus cachos iam sumindo.

A Cabeleira da falsa felicidade
Depois do meu casamento eu resolvi cortar um pouco essa cabeleira toda e mudar um pouco de ares, ter cachos mais naturais. Daí uma amiga da época me indicou um tal de realinhamento capilar. Ela dizia que fazia e realmente os cachos dela eram lindos! Pois bem, esperei meus três meses de praxe para "retoque de raiz", marquei horário com a cabeleireira dela e fui. Foi o pior pesadelo da minha vida. E olha que ja tive corte químico na adolescência com relaxamento, mas dessa vez meu cabelo estava mais LISO do que nunca esteve em toda a minha vida. Como cortei também, as pontas pareciam pentelhos!!!! Sem brincadeira eu sai do salão, sentei na calçada e chorei. Foi um momento tenebroso. Alí naquele momento eu decidi que nunca mais iria fazer química no cabelo. E começou uma fase suuuper difícil de deixar crescer pra retirar a química alternando o penteado entre lenço, trança e rabo de cavalo.

A transição
Depois de um longo e tenebroso inverno, meses e meses olhando no espelho e me odiando. Odiando a cabeleireira que fez aquilo, cogitando raspar careca, cogitando voltar pra quimica e alisar de vez, chegou finalmente o momento de resolver o problema. Meu cabelo tinha crescido o suficiente para cortar. Mas o corte ia ser curto. Surge um monte de grilos antigos "cabelo vai ficar cheio" "Cabelo cacheado curto não vai ficar bom" "Minha cara é muito gorda" "Eu não vou saber lidar". Coisas que inclusive escutei de muitos cabeleireiros. Peguei a indicação de uma amiga e fui nesse anjo da minha vida que se chama Zeni. Cheguei lá e nunca vi uma pessoa tarada por tesoura que nem ela!! Mostrei umas fotos, falei pra ela "ARRANCA ESSA QUÍMICA TODA DE MIM!", e assim foi!

Antes, durante e depois
Me amei tanto como nunca tinha me amado em toda a minha vida!!! Foi libertador!!! Foi uma sensação fantástica! Tanto que meses depois veio o segundo corte, ainda mais curto! 

O corte mais curto (sdds nuca livre!)
Hoje meu cabelo já cresceu um pouco mais, já fiz outro corte nele, com pontas na frente, e agora estou deixando crescer de novo. Mas o que foi mais importante nesse processo todo foi que eu aprendi a me amar e a entender que meu cabelo é lindo do jeitinho que ele é, sem químicas nem nada (tudo bem, creme pra pentear e hidratação tem que rolar  né migues?). E que do mesmo jeito que eu passei anos da minha vida rejeitando e sofrendo e gastando horrrores pra mudar algo tão perfeito só pra se encaixar em um ideal alheio, tantas outras meninas e mulheres sofrem com isso todos os dias. E mais, a moda, a TV, as revistas e muitas vezes a própria internet, que deveria ser mais inclusiva, reproduz um discurso que apenas faz com que continuemos caminhando no sentido oposto da aceitação e do amor próprio. 

Eu também terei filhos um dia, e podem ser meninas. Eu tenho cabelo crespo, meu marido é negro e eu quero a cada dia lutar para que essas questões estejam cada dia mais bem resolvidas na sociedade para que minha filha possa ser livre pra ser como bem entender! Não quero ter que escutar o que já escutei várias vezes "é o cabelo que vai sai daí não vai ser bom, vai dar trabalho". PAREM. APENAS PAREM. Isso é RACISMO! 

Vamos apenas nos amar e nos aceitar, aceitar os lisos, os cacheados, os crespos, todos os tipos e estilos porque diversidade é lindo! E só quem se ama é capaz de amar o outro também! 

Eu me amando muito!

6 comentários:

  1. Eu amo os cachinhos das minha irmã..
    Só fiquei decepcionada porque o meu não era definido.. Não era liso, nem cacheado.. Ondulado armado e queria morrer com isso hhauhuhauhuha

    Eu cabelo é lindo e a cor então? Nem se fala <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rola isso né... do cabelo ter crise de identidade! Conheço algumas pessoas assim. A maioria delas acabaram fazendo escova progressiva. Mas como eu disse o importante é não ter crise e se amar! O meu problema fundamental era esse! Obrigada pelos elogios e pelo comentário! Beijos!

      Excluir
  2. Amei sua historia Nayara. Ru estou nesse procesdo de indecisao,.se aliso ou assumo o meu cabelo crespo. Depois desse post as chances de eu voltar as origens estao aumentando. Bjo no coraçao. Gabi.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Gabi!! passar pelo processo de transição não é fácil mas vale a pena! A liberdade de ficar sem ter que ir no salão de três em três meses e gastar fortunas é ótimo e melhor ainda é a chance de nos encontrarmos com nós mesmas! Beijos!

      Excluir
  3. Adoro ler histórias assim porque foi o que me deu a maior força pra assumir meu cabelo também, do jeito que é, depois de anos fazendo progressiva ou só saindo com ele preso porque "não era bom". Cabelo bom é o cabelo que a gente se sente bem, não importa se é liso, crespo, com volume, sem volume, com chapinha, sem chapinha, tanto faz.

    E ô cabelo ruivo lindo o teu!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Arrasou MUITO Luiza!! É isso! A gente tem que se sentir bem, o resto é resto!!

      Obrigada pelo comentário e pelo elogio!! Beijo beijo!!

      Excluir

E aí? o que você achou?

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...